terça-feira, 6 de janeiro de 2015

CONSELHO INDIGENISTA REPUDIA FALA DE KÁTIA ABREU E AFIRMA QUE MINISTRA "PASSA POR RIDÍCULA"

A entrevista da ministra da Agricultura, Kátia Abreu, causou mais uma repercussão negativa entre os movimentos sociais. O Conselho Indigenista Missionário divulgou um manifesto em repúdio às declarações sobre os índios. De acordo com a entidade, é "absurda" a tese defendida por Kátia, de que "os índios saíram da floresta e passaram a descer nas áreas de produção".
"Uma afirmação tão descabida e desconectada da realidade do nosso país só pode ser fruto de uma total ignorância e de uma profunda má fé", diz o comunicado. "Quem realmente conhece a história de nosso país sabe que não são os povos indígenas que saíram ou saem das florestas. São os agentes do latifúndio, do ruralismo, do agronegócio que invadem e derrubam as florestas, expulsam e assassinam as populações que nela vivem", rebate o texto.
Assinada pelo bispo do Xingu e presidente do Cimi, Dom Erwin Kräutler, pela vice-presidente do Cimi, Emília Altini, e pelo secretário-executivo do Conselho, Cleber César Buzatto, a nota chama ainda Kátia Abreu de "rainha da Motosserra", título concedido pela ONG Greenpeace, e diz que a senadora "passa por ridícula ao negar o direito dos povos lembrando que 'o Brasil inteiro era deles'". Leia a íntegra:
Cimi repudia declarações da ministra Kátia Abreu
O Conselho Indigenista Missionário manifesta um veemente repúdio às declarações que a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Kátia Abreu (PMDB-TO) deu em entrevista publicada neste dia 05 de janeiro de 2015 no Jornal Folha de S. Paulo.
A ministra mais uma vez defende a Proposta de Emenda Constitucional 215/00 e tenta deslegitimar o direito dos povos indígenas sobre suas terras tradicionais arguindo a tese absurda de que "os índios saíram da floresta e passaram a descer nas áreas de produção". Uma afirmação tão descabida e desconectada da realidade do nosso país só pode ser fruto de uma total ignorância e de uma profunda má fé. Quem realmente conhece a história de nosso país sabe que não são os povos indígenas que saíram ou saem das florestas. São os agentes do latifúndio, do ruralismo, do agronegócio que invadem e derrubam as florestas, expulsam e assassinam as populações que nela vivem.
A "rainha da motosserra", como a ministra da Agricultura também é conhecida, passa inclusive por ridícula ao negar o direito dos povos lembrando que "o Brasil inteiro era deles". Não é digno de quem foi chamada a ser ministra de Estado do Brasil propagar a ideia caricata de que os povos indígenas estariam reivindicando "o Brasil inteiro". A Constituição Federal de 1988 garante o direito dos povos indígenas sobreviventes dos seculares massacres às terras tradicionalmente habitadas por eles, como garantia para a sua sobrevivência física e cultural. É no mínimo uma atitude esdrúxula de quem mal assumiu o Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento vir a público com insinuações desrespeitosas à Lei Suprema do País. Não satisfeita em atacar, bem no início do "novo" governo Dilma, os povos indígenas, a representante do latifúndio tenta ainda pôr uma "pá de cal" sobre o inexistente processo de reforma agrária no Brasil e esgrime descaradamente a tese de que no Brasil não existiria mais latifúndio.
Com essa entrevista a ministra Kátia Abreu, além de revelar prepotência e cinismo, demonstra claramente que está no governo Dilma para pisotear os direitos daqueles que lutam pela distribuição equânime da terra, pelos direitos dos povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais, camponeses e pelo meio ambiente. A ministra confessa sem meias palavras que assumiu sua pasta para defender o latifúndio e os privilégios que o governo tem concedido ao agronegócio.
A presidente Dilma Rousseff não se deixou impressionar pelas manifestações contrárias de amplos setores da sociedade brasileira à nomeação de Kátia Abreu, inimiga declarada dos povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais, camponeses e do meio ambiente. Com a entrevista ficou evidente que as preocupações e os temores destes setores com o novo governo Dilma são legítimos e justificáveis.
O latifúndio, o ruralismo e o agronegócio não têm limites. Diante de tamanha insensatez e insensibilidade, não resta outra alternativa aos povos senão dar continuidade ao processo de articulação, mobilização e luta em defesa de suas terras e de suas vidas.
Brasília, DF, 05 de janeiro de 2015.
Dom Erwin Kräutler
Bispo do Xingu e Presidente do Cimi

Emília Altini
Vice-Presidente do Cimi

Cleber César Buzatto
Secretário Executivo do Cimi Brasil 247

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