sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Opinião: 'Como muçulmano, me choquei com as caricaturas do jornal'

As 6 charges mais polêmicas do Charlie Hebdo
Por ABDELGHANI ABDELMALEK

Paris viveu nesta quarta um atentado terrível contra a sede do semanário "Charlie Hebdo", que deixou 12 vítimas.
Conhecido por suas reportagens ousadas e "politicamente incorretas", o "Charlie" estava no centro de polêmicas na França havia anos.
Alguns anos atrás, cartunistas visados no ataque publicaram caricaturas do profeta Maomé, desencadeando uma onda de revolta na opinião pública e entre os franceses muçulmanos.
De acordo com o islã ortodoxo, qualquer representação divina ou do profeta é formalmente proibida. Mais além do caráter sacrílego da representação do profeta, o que provocou a cólera dos muçulmanos foram as simplificações e ideias equivocadas que, segundo eles, as caricaturas poderiam difundir: um islã violento e misógino, conjugado à ridicularização da figura do profeta, mostrado às vezes em cadeira de rodas, às vezes deitado nu.
Como francês muçulmano, fiquei chocado com essas imagens. Além de chocarem minha consciência, elas contribuíram para intensificar a estigmatização dos muçulmanos na França, num período em que os atos de islamofobia não paravam de aumentar.
Lamentavelmente, a chantagem usando o argumento da "liberdade de expressão" reforçou uma ideia preconcebida que vê os muçulmanos como contrários às liberdades. O ataque de quarta, rapidamente apresentado como obra de islâmicos, corre o risco de reforçar os discursos mais extremistas em relação aos muçulmanos na França.
É exatamente esse o receio compartilhado por muitos muçulmanos franceses.
A sociedade em seu conjunto exprimiu sua solidariedade e sua compaixão pelas vítimas e suas famílias.
Os muçulmanos não fugiram à regra. Contudo, eles, em sua grande maioria, se negam a ser associados de qualquer maneira a esse ataque e rejeitam a ideia de que precisem pedir desculpas por ele.
Nosso livro sagrado, o Alcorão, nos ensina que "quem mata um homem mata toda a humanidade". Hoje, com essa matança, os muçulmanos e sua religião também foram atacados. UOL

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