sexta-feira, 20 de março de 2015

Cid Gomes mitou em sua missão suicida

Cid Gomes mitou em sua missão suicida na Câmara. Por alguns longos minutos falou o que todo o mundo sabe e pegou de surpresa os que esperavam um ato de contrição.
Gomes fora convocado pelo Legislativo para “explicar” uma declaração dada na Universidade Federal do Pará, numa clara demonstração de intimidação. “Tem lá uns 400 deputados, 300 deputados que quanto pior melhor para eles”, contou num palestra. “Eles querem é que o governo esteja frágil porque é a forma de eles achacarem mais, tomarem mais, tirarem mais dele, aprovarem as emendas impositivas”.
Ao invés de desculpas, partiu para cima. Saiu do plenário já demitido, depois de um massacre que culminou com Sérgio Zveiter (do PSD-RJ, que se livrou de uma ação por abuso de poder econômico e utilização indevida de meios de comunicação) o chamando de “palhaço”. Sintomaticamente, quem anunciou a saída de Gomes foi Eduardo Cunha.
Em seus instantes de sincericídio, o ex-ministro da Educação conseguiu dizer o seguinte:
. “Sempre tive respeito pelo Parlamento. Isso não quer dizer que eu concorde com a postura de alguns, de vários, de muitos que mesmo estando no governo, com seus partidos participando no governo, tenham uma postura de oportunismo”.
Mentira?
. “Partidos de oposição têm o dever de fazer oposição. Partidos de situação têm o dever de ser situação ou então larguem o osso, saiam do governo”.
Mentira?
“Prefiro ser acusado por ele de mal-educado do que ser acusado como ele de achaque”, afirmou ainda, apontado o dedo para Cunha.
Na sequencia, os deputados fizeram fila para lhe bater, sob o comando do presidente da Câmara, visivelmente consternado (o rosto de Cunha adquire um tom aflitivamente rosado sob tensão). Lembraram até da sogra de Gomes.
De volta à tribuna, ele atacou: “Uns tinham cinco e agora têm sete [ministérios]. Logo vão querer a presidência. Tenho convicção de que Dilma é vítima de setores da sociedade, como políticos e empresários”.
Leonardo Picciani (cujo patrimônio declarado foi de R$ 365.624,60 em 2000 para R$ 9.885.603), líder do PMDB, ficou feliz com o desfecho da história: “Não esperávamos outra atitude que não fosse essa [a demissão]. O que ele demonstrou aqui foi falta de formação democrática, de formação republicana. Ele saiu daqui como um fanfarrão”, disse o fanfarrão.
Não saberemos como Cid Gomes teria se saído como ministro, mas no papel de manifestante contra a corrupção ele deu uma aula. DCM

"Falar a verdade nesse País custa muito caro", diz Ciro Gomes sobre polêmica envolvendo o irmão, Cid Gomes


terça-feira, 10 de março de 2015

Renan torna-se maior opositor a Dilma no Congresso

Marcos Oliveira/Ag. Senado
Renan e Dilma na cerimônia de posse do segundo mandato, quando ele ainda era visto como um aliado "complicado"
“Não é independência, é oposição. E é um movimento sem volta. Não existe a hipótese de ele voltar a apoiar esse governo”. O governo em questão é o de Dilma Rousseff. “Ele” é o presidente do Senado, Renan Calheiros, de quem o autor da frase acima é um dos interlocutores mais frequentes. Por trás de tamanha indignação, um fato – a inclusão de Renan entre os políticos que responderão a inquéritos criminais por envolvimento com o desvio de recursos na Petrobras – e várias interpretações.
Uma delas é bastante aceitável. O Planalto adorou mesmo ver o sulfuroso noticiário sobre a Petrobras mudar de cenário, migrando lá para o Congresso, no outro lado da Praça dos Três Poderes. Deu até uma mãozinha, vazando que Renan e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, estavam entre os políticos incluídos na famigerada “lista de Janot”.  Pode-se, pois, concluir: se não jogou deliberadamente a crise da Petrobras no colo do Congresso, como se tornou voz corrente na Câmara e no Senado, o governo no mínimo se alegrou com a perspectiva de enfraquecimento de um desafeto assumido (Cunha) e de um aliado que Dilma e arredores sempre consideraram “complicado” (Renan).
Menos substância tem o sentimento, compartilhado por Renan, Cunha e quase todos os “listados”, de que o governo teve ação determinante na escolha dos nomes que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, submeteu ao Supremo Tribunal Federal (STF) ao encaminhar os pedidos de inquérito contra as autoridades com foro privilegiado denunciadas pelos delatores da Operação Lava Jato.
Fosse assim, não teria Janot proposto inquérito contra dezenas de políticos governistas e apenas um da oposição. Nem teria deixado em dúvida a origem dos recursos usados na campanha presidencial de Dilma em 2010. Não descartou, nem confirmou, a possibilidade de aquela campanha ter contado com dinheiro subtraído ilegalmente da Petrobras.
Apenas disse que não lhe competiria investigar o fato, já que a Constituição impede a “investigação do presidente da República, na vigência de seu mandato, sobre atos estranhos ao exercício de suas funções”.
Até onde vai Renan
Renan está irritadíssimo com Janot. Cobra dele, além da inclusão do seu nome na famosa lista, a falta de oportunidade para se defender antes do envio do pedido de inquérito ao STF – procedimento, aliás, que jamais foi a praxe do Ministério Público Federal. Mas, se passou a ver o MP e seu chefe maior como adversários, Renan não pretende estimular a formação de uma CPI para fustigar o Ministério Público, como chegou a se especular. E, sobretudo, é Dilma e não Janot quem o presidente do Senado elegeu como alvo central da sua indignação.
“O Renan era o principal apoio do governo aqui e passou, junto com Cunha e outros, a ser apresentado como o grande vilão da corrupção na Petrobras. Ora, a responsabilidade pelos crimes na Petrobras é de Dilma, é do governo, não pode ser imputada ao Congresso”, diz um senador tomando as dores do presidente do Senado e garantindo que “ele não vai deixar barato”.
recusa ao convite para jantar com Dilma e a devolução da medida provisória que eleva a tributação sobre a folha de pessoal , segundo esse parlamentar, são “a rota de partida, não de chegada” das retaliações de Renan contra o Planalto.
No próximo lance, ele colocará em votação na sessão do Congresso marcada para as 11h desta quarta-feira (11) o veto à correção da tabela do Imposto de Renda sobre pessoas físicas. A menos que Dilma demonstre nas próximas horas uma habilidade política que até este momento permaneceu oculta, será mais uma votação em que o governo está condenado à derrota. Como ocorreu quando Cunha, em 1o de fevereiro, bateu o PT na disputa pela presidência da Câmara. Ou, na última quarta-feira (4), quando os deputados votaram pela restrição às possibilidades de nomeações de ministros para o Supremo durante o atual mandato de Dilma ao aprovarem em primeiro turno a PEC da Bengala – por impressionantes 317 votos contra 131.
Até onde irá Renan é uma pergunta que ninguém pode responder ao certo, já que o arrolamento do seu nome entre os investigados da Lava Jato talvez traga à sua autoridade danos ainda difíceis de prever. Por ora, sua situação continua muito confortável no Senado, onde tem o apoio da maioria dos senadores – inclusive da oposição, que aplaudiu o gesto de devolução da MP – e controle absoluto da Mesa.
É com essa força e com a dupla condição de presidente do Senado e do Congresso que ele se apresenta agora para o governo como um “osso” ainda mais duro de roer do que Eduardo Cunha. Este, por suas ligações empresariais, tem defendido com vigor o ajuste fiscal do ministro Joaquim Levy e repudiado qualquer especulação a respeito de um possível processo de impeachment contra Dilma.
Já Renan já deu demonstrações de que não morre de amores nem pelo ministro da Fazenda nem pelo seu pacote fiscal. Quanto ao impeachment, cujo processo se inicia na Câmara e só chega ao Senado para a etapa de julgamento, fiquemos com as palavras do mesmo interlocutor cuja fala deu início a este texto: “A economia vai mal, temos um quadro de insatisfação popular e de crise política. Basta aparecer um fato implicando a Dilma que a coisa terá consequências. De improvável o impeachment passou a ser muito provável”.
Descartando a possibilidade de o Senado abrir processos de cassação contra os acusados da Lava Jato, a mesma fonte afirma que as dificuldades de Dilma no Parlamento estão apenas começando: “Quem está com problema hoje não é quem vai ser investigado na Lava Jato. Inquéritos e ações contra parlamentares sempre existiram e demoram anos até chegarem a algum resultado. O problema é do governo, que perdeu o controle do Congresso. Dilma não tem mais base no Congresso. E o tempo judicial é lento, mas o tempo político é rápido”. Congresso em Foco

Por que todo mundo quer crucificar Dilma?

Estão de marcação cerrada
Estão de marcação cerrada
Lennon disse numa música, e Dilma poderia repetir: “Do jeito que as coisas estão, vão acabar me crucificando.”
Está na moda crucificar Dilma.
A direita bate nela. A esquerda bate nela. E é curioso: poucos meses atrás, ela foi reeleita com 54 milhões de votos.
Em meio a uma campanha sanguinolenta da mídia, ela se reelegeu. Os eleitores entenderam que ela merecia um novo mandato.
Na educação, excluídos chegaram em número inédito às universidades. Na saúde, o programa Mais Médicos levou assistência a dezenas, centenas de milhares de brasileiros que jamais viram um consultório.
Na economia, o Brasil manteve-se firme, com índices baixíssimos de desemprego, enquanto uma crise furiosa abalava potências como Estados Unidos e Alemanha.
Na área social, milhões de brasileiros saíram da miséria graças a programas de assistência.
Como tudo pode ter mudado tão rápido?
É difícil entender à luz da racionalidade. No discurso de ontem, por exemplo, que vem sendo atacado por todo mundo, de Caiado a Luciana Genro: o que ela disse de errado?
Serra escreveu que, com a fala, Dilma convocou as pessoas para o protesto de 15 de março.
Mas o que justifica essa visão de Serra?
Dilma, no pronunciamento, situou a crise do Brasil como algo que se insere num universo em turbulência.
A imprensa disse que ela “culpou” a crise internacional, mas isto é uma falácia. Dilma colocou o Brasil no mundo, simplesmente.
Numa economia globalizada, quem prospera quando há uma crise generalizada?
Ninguém. A China vai crescer metade do que vinha crescendo nos últimos anos. A Rússia vai decrescer 5%, sem que ninguém atribua a Putin o retrocesso e fique batendo em panelas.
Qual o ponto aí, então?
A rigor, Dilma jogou mais luzes, no assunto, do que a imprensa porque esta, ou por inépcia ou por desonestidade, parece desconsiderar que as coisas estejam complicadas em toda parte.
Em relação ao ajuste, Dilma fez uma analogia que o DCM, meses atrás, já fizera.
Quando você está gastando acima de suas possibilidades, uma hora você tem que se ajustar nas despesas.
Acontece numa família, acontece numa empresa, acontece num país.
Agora: é importante notar que cada ajuste é diferente do outro. Na Abril, onde participei de vários ajustes como diretor de revistas e de unidades de negócios.
Eu evitei sempre cortar no conteúdo e nas pessoas. Campanhas de marketing podiam ser postergadas. Pesquisas caras podiam ficar para adiante, quando as coisas melhorassem.
Isso quer dizer o seguinte: você tem como administrar ajustes.
Ah, mas o Levy é um ortodoxo. E daí? Levy, sob Aécio, cortaria determinadas coisas. Programas sociais, provavelmente.
Sob Dilma, ele tem que se adequar às prioridades dela. Dilma reafirmou, no discurso, seu compromisso com os menos favorecidos.
Até aqui, não há dado nenhum que sustente a ideia de que esteja sacrificando quem menos pode.
Ela atentaria contra sua própria história e contra o futuro de seu partido. Como o PT poderia pensar em ganhar em 2018 se os eleitores que fizeram a diferença agora se sentissem enganados por Dilma?
O que existe, aparentemente, é uma imensa neurastenia, pela esquerda, e uma monstruosa mobilização golpista, pela direita.
No meio disso tudo, está Dilma.
O jogo nem começou, e já a tratam, absurdamente, como uma derrotada.
Mesmo os que, cinicamente, falam na corrupção. Quando se combateu a corrupção como agora?
Antes, a direita, malandramente, dava foco total em corrupção quando um governo popular se instalava no poder.
Escândalos reais e sobretudo imaginários tomavam o noticiário para sabotar administrações inimigas. Foi assim com Getúlio, Jango, Lula e Dilma.
Depois, como que por milagre, a corrupção desaparecia da imprensa. Pesquise a corrupção no regime militar noticiada pela Globo.
Agora, com a lista de Janot, você tem na rede acusados não apenas de um partido, o que é um avanço espetacular.
Porque significa o fim da hipocrisia, um passo essencial para coibir corruptos e demagogos que sempre se tiveram na conta de inalcançáveis.
Onde, então, as razões de tanto desagrado com Dilma?
Minha suspeita é que a cobertura matadora que a imprensa dá a Dilma tenha, paradoxalmente, intoxicado a esquerda que abomina essa imprensa.
Espremida entre os dois lados, Dilma, como Lennon na canção, tem que lutar para não ser crucificada. DCM

segunda-feira, 9 de março de 2015

Luciano Huck precisa de um amigo

Ele
Ele

Estou preocupado com Luciano Huck.
Alguém tem que estar, afinal. Porque parece que o empresário e apresentador está sem amigos. Ele já ajudou muita gente. Passou da hora de sair do comodismo de nossos sofás e fazer alguma coisa por Luciano Huck.
Só a alguém a quem falta aquele proverbial amigo que puxa pelo braço e diz “não é por aí, cara” podem acontecer tantas coisas estranhas em tão pouco tempo.
Vamos puxar o extrato de doze meses. Em abril de 2014, ganhou a antipatia do movimento negro ao ajudar a lançar a infame campanha “somos todos macacos”, com direito a foto comendo banana ao lado da mulher, Angélica.  Em junho, achou uma boa convocar, para seu programa de TV, mulheres que gostariam de namorar estrangeiros durante a Copa; se Luciano tinha um amigo na reunião de pauta em que isto foi decidido, este amigo deve ter se esquecido de citar que somos um dos países que mais sofre com o turismo sexual no mundo e que, hum, hã, a ideia poderia não pegar muito bem.
Eu não queria cansar o leitor, mas tem mais e tive que abrir outro parágrafo. No mês de julho, falou ao vivo na Globo que o 7 x 1 contra a Alemanha era o nosso 11 de setembro, comentário que seria capaz de fazer Galvão Bueno ficar sem palavras, o que acabou acontecendo porque Galvão estava ao seu lado. Em novembro, disse à ex-atleta tetraplégica Laís de Souza que uma vantagem de sua condição era não sentir dor ao fazer tatuagem; dor sentiu Laís, que não achou graça e disse que não, que não via vantagem.
E chegamos a março de 2015, mês que conheceu a camiseta infantil com convite à pedofilia. A estampa “Vem ni mim que eu tou facim” foi aplicada a uma peça usada por uma criança, gerou inevitável polêmica e Luciano veio a público humilhadíssimo pedir desculpas.  Disse que ninguém sabia; jamais sua marca de camisetas teria esta intenção.
(O problema, apontado pelo Buzzfeed, é que a marca sabia, sim, que as tais estampas estavam sendo aplicadas à coleção infantil; havia um post de janeiro oferecendo as peças, post este que saiu do ar depois que a casa caiu. Os recatados mea culpa de Luciano e de sua equipe são, portanto, bem, como dizer… Não são muito verdadeiros).
Este é um homem que precisa de um amigo. Se não um amigo, até um bom gerente de banco poderia avisar que isto tudo está fazendo mal para os negócios. Como eu disse: Luciano já ajudou muita gente. Agora, precisa de nós. Não pode contar apenas com os figurantes brancos e louros que o assistem comendo salsicha e mortadela no comercial da Perdigão.
Queria ser amigo de Luciano para lhe dizer: você não sabe falar de improviso. Aceite. Não tente nem mesmo escrever artigos de improviso, como quando você protestou na Folha pelo direito de sair de um restaurante caro em São Paulo usando um relógio Rolex de 50 mil reais.
Isso porque alguns cretinos têm a pachorra de dizer que andar com um apartamento popular no pulso é ostentação num país em que milhões ainda vivem na miséria. Queria ser amigo de Luciano para poder lhe dar outro toque: evite falar com jornalistas. Vão acabar distorcendo suas palavras, como quando você disse a Mylton Severiano sobre a clientela de seu bar nos Jardins nos anos 90: “Uma coisa eu digo: aqui baiano não entra”.
Um bom amigo teria puxado-o para fora da foto em que aparece, perplexo, no apartamento da irmã de Aécio Neves naquele fatídico 26 de outubro. Até porque, ao contrário de celebridades como o jogador Neymar, Luciano não mexe com política e não gravou vídeo nenhum apoiando o candidato tucano.
Estou preocupado com Luciano Huck. Todos deveríamos estar. DCM

Caruso conseguiu provocar repúdio até em seus fãs com a charge de Dilma

O espírito da Globo
O espírito da Globo
Existe uma coisa chamada, em alemão, de Zeitgeist. Significa “o espírito do tempo”.
Grandes jornalistas – editores, colunistas, chargistas – têm isso. Eles conseguem captar os ventos que sopram no mundo, as ideias que mobilizam a sociedade, as discussões que agitam as comunidades.
Mas não é um atributo duradouro. Ou você renova a sua capacidade de enxergar as coisas ou perde o Zeitgeist.
É, então, a sua ruína. Você é uma caricatura de você mesmo. Você defende carros na era das bicicletas e coisas do gênero.
O cartunista Chico Caruso enquadra-se nesse caso. Nos anos 1980, e pelo menos em parte da década de 1990, ele foi chargista brasileiro.
Era tão surpreendente e fino que a TV Globo o colocou para fazer charges eletrônicas, algo inédito no Brasil.
Mas Chico Caruso foi perdendo a mão, e a cabeça, e o que resta dele, hoje, são ruínas.
A charge de hoje em que Dilma aparece de joelhos, prestes a ser decapitada por um extremista do Estado Islâmico, é simplesmente repulsiva.
Mereceu, nas redes sociais, um amplo, generalizado, estridente repúdio – e não apenas de petistas. Várias pessoas que se disseram fãs de Chico Caruso manifestaram sua revolta com o que viram.
Qual era o ponto? Difícil dizer. Qual era a graça? Mais difícil ainda. Qual era a motivação? Aí sim era fácil identificar: raiva contra Dilma.
Caruso, como todo humor produzido na Globo, sofre de um mal insanável. Ele não pode fazer graça com nada que comprometa os humores de seus patrões.
Bobo ele não é. Você não verá nenhuma charge sua que faça referência ao caso HSBC, por exemplo, assim como não viu nenhuma que ironizasse o aeroporto de Aécio.
E então ele vira um autor de desenhos que vão agradar os Marinhos.
Hoje, na imprensa brasileira, bater em Dilma e no PT substituiu o talento para você fazer carreira e merecer luzes.
Nulidades como Villa, Constantino, Sardenberg e tantos outros vivem de seu antipetismo ululante.
Marta Suplicy começou a atacar o PT e Dilma e veja no que deu: já é colunista da Folha. Batata. Quanto vai demorar para que a Globo lhe dê alguma coisa? E para que ela figure nas páginas amarelas da Veja?
Caruso, voltando a ele, fez uma troca lastimável. Perdeu o espírito do tempo e se embrenhou do espírito da Globo.
Caruso representa, no universo das charges, o que a Globo é fora delas: um símbolo da iniquidade, do golpismo, dos privilégios de uma casta egoísta e desonesta.
Você tem uma ideia de quanto ele está ultrapassado quando passa os olhos pelo trabalho de Latuff. É a inovação versus o atraso.
Com tantas charges esdrúxulas nos últimos anos, Caruso hoje se superou. Ele conseguiu cortar a cabeça de Dilma no Dia da Mulher.
Ele provavelmente vai receber tapinhas nas costas de seus editores e talvez até de algum Marinho.
Mas como chargista sua carreira como alguém digno de respeito terminou hoje, ceifada pela faca que ele colocou nas mãos de um terrorista prestes a decapitar Dilma. DCM

Juca Kfouri: O panelaço da barriga cheia e do ódio

Nós, brasileiros, somos capazes de sonegar meio trilhão de reais de Imposto de Renda só no ano passado.
Como somos capazes de vender e comprar DVDs piratas, cuspir no chão, desrespeitar o sinal vermelho, andar pelo acostamento e, ainda por cima, votar no Collor, no Maluf, no Newtão Cardoso, na Roseana, no Marconi Perillo ou no Palocci.
O panelaço nas varandas gourmet de ontem não foi contra a corrupção.
Foi contra o incômodo que a elite branca sente ao disputar espaço com esta gente diferenciada que anda frequentando  aeroportos, congestionando o trânsito e disputando vaga na universidade.
Elite branca que não se assume como tal, embora seja elite e branca.
Como eu sou.
Elite branca, termo criado pelo conservador Cláudio Lembo, que dela faz parte, não nega, mas enxerga.
Como Luís Carlos Bresser Pereira, fundador do PSDB e ex-ministro de FHC, que disse:
“Um fenômeno novo na realidade brasileira é o ódio político, o espírito golpista dos ricos contra os pobres. 
O pacto nacional popular articulado pelo PT desmoronou no governo Dilma e a burguesia voltou a se unificar. 
Surgiu um fenômeno nunca visto antes no Brasil, um ódio coletivo da classe alta, dos ricos, a um partido e a um presidente. 
Não é preocupação ou medo. É ódio. 
Decorre do fato de se ter, pela primeira vez, um governo de centro-esquerda que se conservou de esquerda, que fez compromissos, mas não se entregou. 
Continuou defendendo os pobres contra os ricos. 
O governo revelou uma preferência forte e clara pelos trabalhadores e pelos pobres. 
Nos dois últimos anos da Dilma, a luta de classes voltou com força. 
Não por parte dos trabalhadores, mas por parte da burguesia insatisfeita. 
Quando os liberais e os ricos perderam a eleição não aceitaram isso e, antidemocraticamente, continuaram de armas em punho. 
E de repente, voltávamos ao udenismo e ao golpismo.”
Nada diferente do que pensa o empresário também tucano Ricardo Semler, que ri quando lhe dizem que os escândalos do mensalão e da Petrobras demonstram que jamais se roubou tanto no país. 
“Santa hipocrisia”, disse ele. “Já se roubou muito mais, apenas não era publicado, não ia parar nas redes sociais”.
Sejamos francos: tão legítimo como protestar contra o governo é a falta de senso do ridículo de quem bate panelas de barriga cheia, mesmo sob o risco de riscar as de teflon, como bem observou o jornalista Leonardo Sakamoto.
Ou a falta de educação, ao chamar uma mulher de “vaca” em quaisquer dias do ano ou no Dia Internacional da Mulher, repetindo a cafajestagem do jogo de abertura da Copa do Mundo.
Aliás, como bem lembrou o artista plástico Fábio Tremonte: “Nem todo mundo que mora em bairro rico participou do panelaço. Muitos não sabiam onde ficava a cozinha”.
Já na zona leste, em São Paulo, não houve panelaço, nem se ouviu o pronunciamento da presidenta, porque faltava luz na região, como tem faltado água, graças aos bom serviços da Eletropaulo e da Sabesp.
Dilma Rousseff, gostemos ou não, foi democraticamente eleita em outubro passado.
Que as vozes de Bresser Pereira e Semler prevaleçam sobre as dos Bolsonaros é o mínimo que se pode esperar de quem queira, verdadeiramente, um país mais justo e fraterno.
E sem corrupção, é claro! UOL

O que vai acontecer com o juiz federal que sugeriu a morte da presidente numa “piada”?

juiz

O Brasil tem algumas jabuticabas, aquelas coisas que só dão aqui. Uma delas é o recorde mundial de autoritários que falam o que querem e reclamam de uma ditadura.
Outra são os nossos incríveis juízes.
Carteiradas em bafômetros, bate bocas federais, passeios em carros de réus — o que falta?
A nova nessa área veio do juiz federal Alexandre Infante. Ele usou sua conta no Twitter para fazer uma “piada”: “Dilma disse que vai sancionar amanhã a Lei do Feminicídio. Legislando em causa própria?”, escreveu. Em seguida: “Panelaço”.
A reação fez com que o corajoso magistrado apagasse não apenas o que escreveu, mas o próprio perfil.
Infante é de Montes Claros, Minas Gerais, diretor da Associação dos Juízes Federais do Brasil, Ajufe.
Ficará guardado em seu coração o que o levou a cravar essas palavras. Ele sugere a eliminação da presidente, é isso? Foi uma brincadeira? Um ato falho?
Eu arrisco que é tudo isso junto, mais a ausência de noção, o ambiente de total e completa histeria e a certeza absoluta da impunidade.
Nos Estados Unidos, a terra prometida da liberdade de expressão, um sujeito chamado Donte Jamar, de 21 anos, foi preso em 2012 depois de tuitar que iria “atirar em Obama com aquele negócio do Lee Harvey Oswald”.
Uma bobagem. Foi em cana, fim de papo.
Por aqui, o limite é o não limite.
Alexandre Infante se sente confortável o suficiente para fazer o papel de revoltado online porque sabe que não vai dar nada. Qual o problema? O que pode acontecer com ele?
Você sabe a resposta.
O juiz deve sumir por alguns dias. Mas, no dia 15 de março, é bem provável que esteja marchando em alguma capital. DCM